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O analista de sistemas Edilson Alves da Nóbrega, de 45 anos, começou a correr para tratar depressão e, depois de sete anos competindo, participará do maior desafio das corridas. Ele será um dos dez brasileiros participantes da Spartathlon, uma das ultramaratonas mais difíceis do mundo, com percurso de 246km entre Atenas e Esparta, na Grécia – distância que Edilson almeja percorrer em 30 horas, seis antes do limite.
A Spartathlon, cuja edição 2024 terá início neste sábado (28), é famosa não apenas pelo tamanho do trajeto, mas também pelo caminho percorrido e pela história que a cerca.
Realizada desde 1983, a Spartathlon percorre pistas acidentadas e lamacentas (muitas vezes chove durante a prova), atravessa vinhas e olivais, sobe encostas íngremes e leva os corredores a subida e descida de 1.200 metros no Monte Partenio na calada da noite.
Esta é a montanha, coberta de pedras e arbustos, onde se diz que Fidípides conheceu o deus Pan. Segundo o historiador grego Heródoto, o mensageiro ateniense correu de Atenas a Esparta, em uma distância de mais de 200km, para buscar ajuda antes da batalha de Maratona, em 490 a.C, contra os persas. Conta a lenda que Fidípides correu 42km de Maratona a Atenas para anunciar a vitória grega e, logo na sequência, morreu de exaustão.
— A Spartathlon é uma das provas de ultradistância mais desafiadoras do mundo, dados o percurso, a altimetria e o clima. Além de charmosa e incrivelmente bela, o fundo histórico me chamou atenção. Possuir no currículo de ultramaratonista o “selo espartano” será ótimo e indescritível — conta Edilson ao EU Atleta.
Ele tem se preparado para a Spartathlon desde abril, com acompanhamento do ambulatório de corrida do Serviço de Medicina e Exercício do Esporte do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), onde é atendido há três anos.
— Ele procurou o ambulatório de forma espontânea, querendo melhorar o condicionamento físico, a performance e o tempo, uma vez que já tinha feito a primeira prova dele de 24 horas. Para isso, fomos juntos ajustando as estratégias, especialmente para a Spartathlon — explica o médico do esporte Avner Melo Teixeira, do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), administrado pelo Iamspe.
— O trabalho é entender a lógica dos treinamentos e a progressão de volume. A Spartathlon, uma prova de 36 horas, tem cerca de 250km. Há uma rodagem específica. Normalmente, as provas que o paciente faz são de 24 horas. Por isso, aqui no HSPE, a gente faz a avaliação e o acompanhamento cardiovascular e osteomuscular para que o paciente possa desempenhar bem durante a ultramaratona. Nós ajustamos hidratação, suplementação, intra-treino, entre prova e ritmo baseados em ergoespirometria.
Desde que fez a primeira corrida, em 2017, Edilson já participou de muitas provas, inclusive de ultramaratonas, chegando à distância máxima de 235km.
— Foi a partir de influências de outros ultramaratonistas já consagrados no meio e quando percebi que a distância de maratona, 42 km, já era algo “normal” nos meus treinos longos de final de semana — explica o analista de sistemas sobre a decisão de se tornar ultramaratonista.
— A preparação é conforme o objetivo e a prova: distância, tipo de percurso – se é pista, estradão, trilha – e tempo até o dia da prova. E envolve, além do aspecto físico, treinos de especificidade: corrida, funcional, educativos e fortalecimento muscular. Além disso, conta com alimentação, controle psicológico e logística — detalha o esportista.
Segundo Edilson, os desafios de participar de uma ultramaratona como a Spartathlon começam já na preparação.
— Os desafios estão entre equilibrar a rotina do dia a dia de trabalho, os estudos, a família e as amizades com as especificidades da prova, tendo foco na alimentação, no sono e em consultas de medicina esportiva e abdicando de festas e finais de semana. É preciso treinos muito longos e em climas variados, com temperatura alta, frio, chuva.
E os desafios seguem no dia da prova de uma ultramaratona.
— A depender da distância e do percurso, os desafios são vencer o sono, alinhar alimentação e hidratação, além de perceber as mudanças e “ouvir” o corpo. Fora isso, claro, o controle mental.
Apesar de tantas dificuldades, Edilson assegura que as recompensas valem a pena.
— Reconhecer os “limites” do corpo, sabendo que ainda pode ir além, sentir o conforto no “desconforto” físico, ser considerado parte de um grupo seleto de atletas e alimentar o ego, já que é possível contar as histórias da conquista, de mais um desafio vencido — cita o atleta sobre os benefícios das ultramaratonas.
Ele quer completar a prova, que tem 36 horas de duração, em menos do que isso, em 30 horas.
— Sei onde quero chegar, e vou chegar. Essa frase me motiva e ajuda a trabalhar bem meu psicológico e controle emocional no dia a dia. Estou rodeado de pessoas boas, com objetivos similares e potencial para grandes conquistas. Busco inspiração em pessoas “reais” com lutas e conquistas, superando limites diários no esporte e fora dele — finaliza o ultramaratonista.