Vaiado nos estádios e criticado pela imprensa durante toda a Eurocopa, Gareth Southgate classificou a Inglaterra para sua segunda final continental consecutiva, algo inédito para o país, onde as decisões do treinador são agora elogiadas.
“Questionado e insultado, mas a Inglaterra de Southgate está na final”, resumiu o jornal The Guardian, que classificou o feito dos ‘Three Lions’ de retornar à decisão da Euro depois de três anos como “progresso extraordinário”.
Southgate não é Alf Ramsey, técnico que levou a seleção inglesa ao título na Copa do Mundo de 1966 como anfitriã, mas estabilizou a equipe nos últimos oito anos, com as quartas de final no Mundial de 2022, uma semifinal no Mundial de 2018 e as duas últimas finais de Eurocopa.
Antes de sua chegada, em 2016, a Inglaterra só tinha disputado a final que a consagrou como campeã do mundo, um retrospecto muito pobre em 23 grandes torneios.
Southgate, de 53 anos e uma experiência limitada como treinador, conseguiu construir pilares sólidos sobre terra arrasada, quando a Federação Inglesa (FA) o escolheu para assumir a seleção depois do fiasco na Euro 2016 sob o comando de Roy Hodgson e a passagem relâmpago de Sam Allardyce, que ficou apenas dois meses no cargo.
“Acho que demos aos nossos torcedores algumas das melhores noites dos últimos 50 anos e estou muito orgulhoso”, disse Southgate após a vitória sobre a Holanda (2 a 1) na semifinal.
O vento começou a soprar a favor também na imprensa, com a classificação para a final, depois do furacão de críticas durante o torneio na Alemanha.
“Todos nós queremos ser amados, não é? Então quando você está fazendo algo para que seu país e você mesmo se sintam orgulhosos de serem ingleses, e tudo o que se lê são críticas, é difícil”, disse o treinador após a partida contra os holandeses.
“Poder fazer uma segunda final é muito, muito especial”, acrescentou.
Mudanças arriscadas, mas que deram certo
O último amistoso antes da Eurocopa, uma derrota para a Islândia em Wembley (1 a 0), terminou com vaias, especialmente para Southgate, que para os torcedores não conseguia dar cara a um time cheio de jogadores talentosos.
Com os ‘Three Lions’ na Alemanha, as críticas se multiplicaram, inclusive por parte de lendas já aposentadas da seleção.
Durante uma discreta fase de grupos, torcedores chegaram a atirar copos de plástico das arquibancadas em direção ao treinador.
Pressionado, Southgate foi convicto em suas decisões táticas, com a entrada do jovem Kobbie Mainoo, de 19 anos, como única grande mudança no time titular.
Torcedores e analistas não pediam que Jude Bellingham e Harry Kane fossem substituídos quando o time perdia para a Eslováquia nas oitavas de final? Pois bem, o primeiro mandou o jogo para a prorrogação e o segundo fez o gol da vitória.
Nas quartas, a demora para mexer na equipe irritou a torcida, mas Cole Palmer, Ivan Toney e Trent Alexander-Arnold garantiram a classificação com 100% de aproveitamento na disputa de pênaltis contra a Suíça.
E na semifinal, contra a Holanda, o gol da vitória foi construído por dois jogadores que saíram do banco de reservas, com Ollie Watkins marcando depois de assistência de Cole Palmer.
“Estava me perguntando quando viriam as mudanças. Elas aconteceram no momento certo”, elogiou o ex-jogador da seleção Alan Shearer, até agora muito crítico em relação a Southgate.
No entanto, o treinador sabe que para ser lembrado precisa de um troféu, mesmo que tenha construído uma equipe que foi capaz de lutar por títulos depois de tantos anos.
Essa luz no fim do túnel está em jogo na final do próximo domingo (14), contra a Espanha, em Berlim.