Foto: Reprodução / Twitter Portuguesa
Depois de focar na contratação de medalhões, Lusa dá chances a garotos, garante retorno à Série D do ano que vem e agora tenta ser a zebra do Paulistão no confronto com o Santos na Vila
Depois de 13 anos sem participar das quartas de final do Campeonato Paulista, a Portuguesa enfrenta o Santos, neste domingo, às 20h15, na Vila Belmiro, valendo uma vaga na semifinal. O sonho de disputar o mata-mata e ter um calendário nacional virou realidade durante uma reformulação comandada pela diretoria com a competição em andamento.
Com a menor pontuação entre os oito classificados do Paulistão, a Lusa, que apostou inicialmente em um elenco majoritariamente formado por veteranos, garantiu uma vaga para a Série D do Brasileirão. E tudo isso foi possível graças ao gol salvador de um garoto de 20 anos, no jogo que classificou a equipe rubro-verde para as quartas de final.
– Se você parar para pensar, o menino que resolveu as nossas bilheterias do ano que vem, a nossa cota de R$ 12 milhões do Paulista do ano que vem, a nossa Série D e a classificação para o mata-mata do Paulista não foi um jogador experiente, foi um menino.
– Um menino que é nosso. Isso me deixa muito feliz. Somos o 11º time que mais formou atletas para a seleção brasileira, a Portuguesa é grande – afirmou o orgulhoso presidente da Portuguesa, em entrevista ao ge.
O jogador em questão é Everton Leandro de Oliveira Santos, o Maceió. O apelido já explica a origem do jogador, que veio a São Paulo para jogar no São Caetano antes de receber uma proposta da Portuguesa. Contratado em 2023, o jovem começou na Lusa pelo sub-20, jogou a Copinha deste ano e subiu para o time profissional no início do Paulistão.
Se no começo do ano a aposta era em um perfil mais experiente na formação de elenco, Maceió, com um salário bem inferior aos nomes mais badalados como Giovanni Augusto, Henrique Dourado e Victor Andrade, foi o protagonista no jogo da classificação, contra o Mirassol – o jovem atacante recebe em torno de R$ 2 mil mensais.
Maceió, atacante da Portuguesa — Foto: Reprodução / Twitter Portuguesa
Antes de Maceió ter oportunidade, a Lusa abriu a temporada comandada por Dado Cavalcanti e um estilo de jogo que não apresentou bons resultados, tanto que a única vitória havia sido na estreia. Depois, uma sequência de quatro derrotas seguidas.
Foi quando o presidente Antônio Carlos Castanheira escolheu tirar o técnico Dado Cavalcanti, auxiliar de Fernando Diniz na seleção brasileiro, e contratou Pintado para comandar o time.
O perfil “raçudo” do novo treinador conquistou o presidente, que logo depois da contratação pediu para os técnicos implementarem seu plano de integração com as categorias de base. O intuito era lapidar os atletas mais jovens e colocá-los à prova no profissional. O plano deu certo.
Maceió fez o gol da vitória da Portuguesa contra o Mirassol, garantiu a permanência do time na Série A1 do Paulistão e de quebra assegurou a vaga na Série D de 2025. Em 2024, uma vitória por 2 a 1 de virada contra o mesmo adversário, na última rodada, manteve a Rubro-Verde na elite, no jogo conhecido pelos torcedores como o “Milagre de Mirassol”.
– Eu nem imaginava o tamanho do gol que tinha feito. Senti o estádio muito diferente nesse jogo. Acho que eles acreditaram com a gente. Que aquele era o momento e o jogo certo. O que eu tinha em mente era ter a permanência no Paulistão. Esse era o objetivo que eu sabia, tinha até esquecido da Série D – disse Maceió.
Torcida da Portuguesa em jogo contra o Mirassol no Canindé — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa
No segundo ano de manutenção da equipe na Série A, a Portuguesa estreou na temporada com um investimento maior em relação aos anos anteriores. A folha de pagamento de R$ 1,2 milhão para o Campeonato Paulista, ainda expressivamente menor que outras equipes da competição, pode formar um elenco mais caro e renomado.
Mesmo com o elenco avaliado como superior aos das temporadas passadas, a presidência entendeu que o perfil de jogo mais recuado montado pelo até então treinador, Dado Cavalcanti, não estava dando certo.
Depois de uma sequência de resultados negativos, Castanheira decidiu trocar a comissão técnica e entrou em um embate com a diretoria, que foi contra a decisão. Porém, ele tinha convicção de que precisava arriscar para fazer a reposição ainda que o campeonato estivesse em andamento. E bancou a mudança da comissão técnica e da diretoria de futebol.
Antônio Carlos Castanheira, presidente da Portuguesa — Foto: Divulgação/Portuguesa
– Tinha as minhas convicções, delego funções, porém sou responsável. Não deu certo, já não tinha dado na Copa Paulista e não deu certo no Paulistão. Tive de mudar a rota toda e foi um momento tenso. A diretoria queria manter o treinador e eu não queria mais. Houve divergências entre nós, não cedi e avisei que iria mudar. Mudei a comissão técnica, o treinador e a diretoria. Agora, sou eu, o Pintado e os treinadores da base – disse o presidente.
Assim que chegou, o novo treinador executou de forma imediata o pedido de mudança no futebol sobre o que tinha sido feito até o momento. A principal transformação feita foi aproveitar os garotos das categorias de base para o profissional.
– Quando eu contratei o Pintado, eu disse assim: “Quero que amanhã a gente veja a situação dos meninos da base”. Retomamos, não nos deixamos abater e fomos buscar a classificação.
Elenco da Portuguesa comemora no Canindé — Foto: Reprodução / Twitter Portuguesa
Com essa medida, sete jogadores do sub-20 foram promovidos, e cinco deles já estiveram em campo: Talles, Pedro Henrique, Denis, Leandro e Maceió.
O técnico também adotou a atitude de promover a concentração com todo o elenco antes dos confrontos.
– A concentração dos atletas era facultativa. Desde o primeiro dia que cheguei, eu contei a história da captura do Osama Bin Laden. Tem até o filme, “A Hora Mais Escura”, esses caras ficaram quatro anos concentrados, estudando, se preparando para o momento mais importante da vida de cada um que ia estar ali. A gente conversou e chamou atenção da importância da concentração, não é só dormir e comer bem. Desde que eu cheguei nos concentramos dois dias antes. E para mim marcou muito esse momento da concentração, nenhum jogador discutiu –relatou Pintado.
Sob o comando de Pintado, a Portuguesa conquistou sete pontos em 12 pontos possíveis, com duas vitórias, um empate e quatro derrotas.
Pintado, técnico da Portuguesa, na partida contra o Corinthians — Foto: Marcos Ribolli
– A gente sabia que para dar certo nessa reconstrução o fator campo tinha que andar junto. Não adiantava só o presidente fazer o trabalho dele por fora da Portuguesa, e no campo as coisas não acontecerem. E desde então foi uma missão dada para nós, atletas e comissão, e conseguimos aos poucos ali conseguir esse êxito dentro de campo – explicou o goleiro Thomazella, que está na Lusa desde 2020 e é um dos mais experientes do grupo.
Neste domingo, a Portuguesa tem um desafio ainda maior: vencer o Santos para avançar às semifinais. A “zebra” do mata-mata vai enfrentar o Peixe fora de casa, na Vila Belmiro, às 20h15 da noite. Em partida única, quem vencer avança de fase. Um empate leva a decisão do confronto para as cobranças de pênalti.
– É fé e trabalho. E a gente tá trabalhando, e a gente merece – afirmou o presidente.