Foto: Fred Gomes
Como de praxe após a apresentação de atletas, Marcos Braz e Bruno Spindel concederam entrevista coletiva nesta sexta-feira depois de apresentarem o atacante Carlinhos. Em pauta esteve o Campeonato Brasileiro, competição que o Rubro-Negro já conquistou oito vezes, mas não a lidera desde a 38ª rodada da edição de 2020. Os dirigentes voltaram a criticar publicamente a CBF e o calendário – algo que não foi feito quando da divulgação do mesmo.
Questionado sobre a declaração do técnico Tite sobre ter que escolher campeonatos para priorizar, após desgaste dos jogadores nos últimos jogos, o vice-presidente de futebol do Flamengo Marcos Braz respondeu:
– Todos nós aqui dentro entendemos qual foi a colocação do Tite. Acho que isso é importante, isso já vem à tona agora para se entender quais caminhos serão trilhados. O próprio calendário impõe algumas situações, esse calendário irresponsável ao qual o Flamengo precisa se submeter. Calendário em que vamos jogar nove jogos numa Data Fifa e teremos seis ou sete jogadores fora. Parte da geografia. O Brasil é um país continental, a própria competição internacional que a gente disputa, que é a Libertadores do América. Algumas coisas vão se expondo e impondo. Muitas coisas serão ditas pela ciência, a parte de fisiologia, de fisioterapia, o departamento médico. São situações que dão o nosso norte sobre o que se pode e o que não se pode em determinado jogos.
O Flamengo quer ganhar sempre o que for disputar, mas nós faremos e ganharemos o que for possível.
— Marcos Braz, sobre declaração de Tite
Mas Braz minimizou o peso da declaração de Tite e disse que na coletiva pós-jogo o técnico não teve tempo para dar uma explicação mais detalhada do pensamento do clube:
– Existe um pedido do presidente Rodolfo Landim, que é quem manda, que todas as competições sejam disputadas para ganhar, mas claro que dentro da análise da ciência. Temos departamentos em que investimos milhões, temos praticamente um laboratório aqui que foi feito para isso. Até os treinamentos são todos monitorados por GPS, nós sabemos todas as variáveis possíveis dessa situação sobre se está se treinando muito ou pouco. Temos um departamento que nos dará muita ênfase e o norte do que poderemos fazer. Tenho certeza que o Tite falou em relação a essa maneira que eu coloquei aqui. Talvez depois de um jogo não tenha muito tempo para responder. Ele não tem o tempo que eu tenho para dar uma explicação mais ampla.
Diretor executivo de futebol rubro-negro, Bruno Spindel fez coro a Marcos Braz e lembrou que o Flamengo pleiteou junto a outros clubes a troca de datas do Brasileirão pela Copa do Brasil durante a Copa América. A proposta – recusada pela CBF – foi feita em fevereiro, quatro meses depois de a confederação divulgar o calendário de 2024, em outubro do ano passado. Em 5 de março, por exemplo, o Conselho Técnico, composto pelos 20 clubes e dirigentes da entidade, aprovaram uma série de novidades no campeonato, como o aumento do limite do número de estrangeiros.
Bruno Spindel dá entrevista coletiva no Flamengo — Foto: Fred Gomes
– Desculpe se eu for redundante. São cerca de 80 jogos, é humanamente impossível para qualquer atleta jogar 80 jogos no seu mais alto nível de rendimento, quiçá sem se lesionar. Se você o colocar nos 80 jogos, o risco de o atleta se lesionar é enorme. Com todos os recursos que o Marcos (Braz) colocou, é o que vai se fazer em relação ao calendário. O Flamengo criou um elenco robusto para disputar todas as competições. Você tem clubes com folha salarial similares ou até maiores em relação à do Flamengo. Não é só o recurso financeiro que traz a competitividade, mas é um indicador. Você tem os nove jogos da Copa América em que o Flamengo vai ser desfalcado.
– Essa escolha de priorizar a Copa do Brasil quem fez foi a CBF. Acho que a CBF fez uma escolha comercial. Ela deve lucrar R$ 200, R$ 300 milhões. É uma dedução. Do ponto de vista esportivo, não faz sentido você tirar todos os atletas de seleção, que devem ser 40 no Brasileiro, e desprestigiar o campeonato. É a última vez que vamos tocar nesse tema antes de o campeonato começar. Mas a CBF rompeu um princípio que ela tinha da isonomia quando fez essa escolha. O Campeonato Brasileiro não tem isonomia esportiva. Ele é mais difícil e desequilibrado para os clubes que têm atletas convocados.
O mínimo que a CBF poderia fazer era pegar os R$ 200, R$ 300 milhões de lucro que ela tem com a Copa do Brasil e distribuir para os clubes que são prejudicados. Aí pelo menos ia amenizar, ajudar os clubes a compensarem a perda com esses atletas que vão para as seleções”.
— Bruno Spindel, diretor executivo do Flamengo.
Tite, treinador do Flamengo, durante partida contra o Palestino, na Libertadores — Foto: André Durão
Segundo Spindel, o Carioca era prioridade nesse primeiro semestre e no primeiro jogo da final vários jogadores bateram recordes de suas métricas sobre desempenho físico.
– O Flamengo entra em todas competições para ganhar, o calendário impõe de acordo com ciência, planejamento, determinadas escolhas. O Flamengo não vai deixar que o calendário escolha pelo Flamengo, lesione atleta com o Flamengo agindo de forma irresponsável. O clube vai usar todos os recursos que tem para tomar as decisões de acordo com o que o calendário impõe. Por exemplo, e acho que foi o que o Tite se referiu: a gente deixou muito claro que o estadual era de fundamental importância para o Flamengo. Nos seis anos da gestão o Flamengo chegou à final em todos e ganhou quatro. Era fundamental que estivessem todos focados nas finais.
– O primeiro jogo foi o de maior demanda física do grupo como um todo, de várias métricas, vários atletas bateram recordes pessoais do ponto de vista físico. No dia seguinte se apresentaram cedo, fizeram viagem de seis horas, de porta a porta entre 10 e 11 horas, e depois o time estava jogando a 2.600 metros de altitude um jogo duríssimo, ninguém pode achar em sã consciência que os jogadores vão render o máximo possível sem tempo para descansar e treinar. Determinadas decisões têm que ser tomadas à luz da ciência com o que o staff e o clube oferecem. E também determinadas questões que não têm a ver com escalação, com tática etc…
O Flamengo estreia no Campeonato Brasileiro neste domingo, no Estádio Serra Dourada, às 16h (de Brasília), contra o Atlético-GO.
Veja outras respostas da coletiva:
DIálogo com a CBF
Spindel: – Ela disse que entende mais do interesse dos clubes do que os próprios clubes. Disse que a Copa do Brasil é mais importante, que tirar jogador de um torneio mata-mata iria prejudicar algo que não teria volta. Tirar também um jogador de 25% de um campeonato decide também um campeonato. E para completar, a Copa do Brasil não paga tanto assim como as pessoas entendem. Ela paga bem para quem chega na final. Para quem não chega, o estadual paga mais.
Spindel: – Até do ponto de vista financeiro, um clube paulista, por exemplo, ganha muito mais no Paulista do que normalmente na Copa do Brasil, a não ser que chegue na final (nota da redação: a premiação do Paulista em 2024 foi de R$ 5 milhões). Os quatro do Rio de forma geral vão ser melhor remunerados no estadual do que na Copa do Brasil, exceto se chegarem na final (nota da redação: o Carioca não pagou premiação, clubes receberam por direito de transmissão). Então nem do ponto de vista financeiro é verdade a afirmação da CBF. O que 13 clubes da Série A deixaram muito claro é que preferiam que o Brasileiro não fosse afetado dessa forma pela Copa América.
Decisões de poupar
Braz: – O (Jorge) Jesus não gostava de poupar, mas poupava. Vocês não falam. 200% decisão do treinador e comissão técnica.
Jorge Jesus em treino do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Spindel: – Isso é número, não é chute. Não estou dizendo que ele não repetiu o time, mas se você pegar o time de quarta para o de domingo, sempre do jogo seguinte contra o anterior, acho que ele não repetiu praticamente nenhum. Em média ele trocava de três a quatro jogadores por partida. Contra o Grêmio antes da final da Libertadores ele trocou nove jogadores e os deixou no Rio se preparando para a final. Rogério Ceni também era entre três e quatro, Renato (Gaúcho) acho que também. O Dorival (Júnior) já era em torno de sete. Então cada um tem uma estratégia, é óbvio que a gente procura montar um elenco que tenha capacidade de enfrentar os desafios da temporada. O Flamengo entra para disputar todos os títulos, mas o que o Tite colocou e a gente também é que é humanamente impossível, como o imaginário popular coloca que é sempre o mesmo time, isso não acontece.
Braz: – Esse dado da última vez que o Flamengo foi líder a gente falou aqui dentro. É um dado muito importante e que nos preocupa: 2020 foi a última vez. Em relação a campeonato, você vai analisando e vendo o que é possível fazer para analisar o seu poder decisório. E isso não deverá ser feito sem a análise da parte da ciência e do dia a dia. Não posso falar hoje o que vai ser prioridade. Hoje o Flamengo não tem prioridade. Hoje é no sentido do que disputar ganhar. Não tem nada diferente do que o Tite falou, nada disso. Apenas é que a gente precisa de embasamento da ciência para ir tomando as decisões. É nesse sentido que o Tite falou. E aí ele vai conversar.
Contratações no Carioca
Braz: – O Flamengo não tem nenhum preconceito em relação a jogador que esteja no Brasil, ou disputando algum estadual, ou num time menor. A nossa decisão, análise para depois efetivar alguma compra, é mais ampla, passa por outras situações. Deixar claro que até nos times menores, quando o Flamengo vai fazer uma análise, para a gente as coisas são dificultadas um pouco mais em relação à parte financeira. É normal isso, é do jogo. E aí o Flamengo analisa e se posiciona. Com o João Lucas foi isso, jogador que deu certo aqui, jogou Libertadores, se não me engano foi campeão com a gente, foi para o Cuiabá, depois Santos. Não é o que eu quero com o Carlinhos, quero que ele continue aqui mais tempo que o João Lucas. Quero que dê certo como João Lucas deu em relação a ajudar o Flamengo quando for requisitado. É o que a gente espera em qualquer contratação independentemente do tamanho do clube ou da história do jogador.
João Lucas quando passou pelo Cuiabá — Foto: AssCom Dourado
Spindel: – O Flamengo contratou praticamente jogadores de todos os mercados: da América do Sul, do Brasil, dos Estados Unidos, da Europa, de clube de menor investimento, de clube de Série A, contratou jogador livre, emprestado que deu certo aqui, de uma faixa menor de investimento que hoje está na seleção brasileira (Fabrício Bruno)… Vamos falar do Erick (Pulgar), uma faixa de investimento mais baixa também que é titular do Flamengo e do Chile. Então não temos preconceito ou viés.
Braz: – Foi imposto isso, de uma maneira acho que injusta com o departamento de futebol do Flamengo, de que o clube só faz contratações milionárias. O Flamengo faz também. Fomos na Argentina e trouxemos o Rossi livre. Fomos no Bayern de Munique e trouxemos o Rafinha livre. Fomos ao Atlético de Madrid e trouxemos o Filipe Luís livre. Fomos no Cruzeiro e trouxemos o Arrascaeta pagando uma quantia impensável com clube brasileiro. Trouxemos por empréstimo Gabigol, Pedro e Thiago Maia, depois efetivamos as compras. Flamengo fez política de maneiras diversas. Gustavo Henrique veio livre. Falaram que não fomos para a América do Sul. Fomos também quando foi possível.
Vai contratar lateral?
Braz: – Não teve nenhuma movimentação do Flamengo e em princípio nenhuma solicitação do Tite para repor dentro dessa situação (convocações de Varela, Ayrton Lucas e Viña), até porque não adianta trazer jogador porque vou ter que prestar atenção se ele é de seleção ou não. Se for, vamos ficar no mesmo problema. O que está sendo imposto ao Flamengo é fazer contratação de uma outra prateleira, e isso não vamos fazer. E outro ponto: não pode trazer jogador só para 10 jogos. Flamengo ou paga por um jogador ou tem que fazer contrato longo. Eu trago, depois voltam os jogadores da seleção e fico com 40 jogadores aqui dentro. Aí começa a encherem o saco dizendo que contratou muita gente.
Pensam em outro ponta-direita?
Braz: – Vou responder para a janela de abril: não. Para frente, você não sabe se vai perder algum jogador, se tem clube gigante querendo jogador do Flamengo… A gente até monitora muito bem isso, é um trabalho que não aparece, só que a janela do meio do ano está muito cedo para falar.
Spindel: – Para a janela do meio do ano a gente não tem diagnóstico, planejamento. Por isso não tem (posição para contratar). E completando tem uma série de atletas que disputam posição com o Luiz (Araújo) na direita: tem o Bruno (Henrique jogando ali), Cebola (Cebolinha), Matheus Gonçalves, Victor Hugo… Várias alternativas que o Tite usou nessa posição.
Hugo Souza
Hugo Souza no Chaves, de Portugal — Foto: Divulgação/Chaves
Braz: – É um empréstimo, o detentor é o Flamengo. Caso acabe o empréstimo e não tenha mercado, a gente respeita contrato, ele volta. Mas para deixar claro, na nossa cabeça, nesse momento a gente não conta com o jogador. Nós trouxemos o Rossi, tem um reserva em que achamos de altíssima qualidade, tem um menino da base que já está super enturmado aqui. Então não vê com possibildiade da volta, a não ser que aconteça uma situação de mercado em que não tenha (interessados), o que eu acho muito pouco provável até pelas atuações dele, estatura, amadurecimento fora daqui.
GE.