Gabriel Medina começou sua trajetória no surfe aos oito anos de idade e, desde então, não fez nada além de “domar” ondas, conquistar títulos e ganhar popularidade dentro e fora do Brasil. Três vezes campeão da World Surf League (WSL), o brasileiro de 30 anos buscará nas águas cristalinas e perigosas de Teahupo’o, no Taiti, uma das poucas conquistas que faltam em seu currículo: a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris, que começam nesta sexta-feira.
Medina, considerado um dos melhores surfistas da história, é o grande favorito na segunda edição dos Jogos em que o surfe está no quadro olímpico. Na estreia da modalidade, em Tóquio 2020 (realizada em 2021 por conta da pandemia de covid-19), o ouro foi para outro brasileiro, Ítalo Ferreira.
A razão do favoritismo transcende seu histórico, que inclui o título dos ISA World Surfing Games-2024: sempre esteve no pódio em Teahupo’o, sede dos torneios, desde que se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial, em 2014. De lá para cá, em sua “onda favorita” do circuito, Medina tem duas vitórias (2014 e 2018), incluindo uma contra o lendário Kelly Slater, quatro vices (2015, 2017, 2019 e 2023) e dois terceiros lugares (2016 e 2024).
“Ser medalhista olímpico é minha meta e vou fazer de tudo para conseguir isso”, disse o brasileiro ao portal Olympics em março.
Apesar dos ventos a favor, adversários experientes como o americano John John Florence, o australiano Jack Robinson e o também brasileiro Filipe Toledo, bicampeão da WSL em 2022 e 2023, ameaçam seu sonho dourado.
“Faz o que ninguém faz”
A história de Medina com o surfe começou cedo em sua terra natal, Maresias, no litoral do estado de São Paulo. De origem humilde, começou a praticar o esporte aos oito anos, depois que seus pais se separaram. Sua mãe, Simone, se casou depois com Charles Rodrigues, dono de uma loja de surfe, conhecido como Charlão.
O padrasto viu no garoto um dom e então passou a treiná-lo, uma relação que durou até 2020, quando a família se desentendeu após seu casamento com a modelo Yasmin Brunet. Juntos, Charlão e Medina conquistaram vários títulos locais e internacionais juvenis, além dos campeonatos da WSL de 2014 e de 2018 e da Tríplice Coroa do Surfe em 2015, a primeira de um brasileiro.
Charlão guiou o enteado até sua estreia no circuito, na praia australiana de Bells Beach em 2010, quando tinha apenas 16 anos. E também até sua primeira vitória, um ano depois, na França. Medina se tornou o rosto da chamada “Brazilian Storm”, o grupo de surfistas do país que chacoalhou a elite do esporte em meados da década passada.
Seu estilo se baseia em dominar os aéreos (saltos com a prancha). Essa capacidade foi patenteada quando completou o primeiro ‘backflip’ em uma competição, no Rio de Janeiro, em 2016.
Ele surpreende “com sua qualidade técnica, com manobras incríveis, com tubos inacreditáveis, com ondas impossíveis de serem completadas, e ele completa. Eu acho que ele tem esse lugar do gênio mesmo, da pessoa que faz o que ninguém faz”, diz Túlio Brandão, autor do livro “Gabriel Medina: a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe do Brasil”.
Fama e depressão
Sua ascensão no mundo esportivo o transformou rapidamente em um ídolo nacional num momento em que o Brasil estava órfão de referências. Medina tem mais de 15 milhões de seguidores em suas redes sociais e seu relacionamento com Yasmin Brunet, de quem se separou em 2022, foi um “prato cheio” para os portais de fofoca.
“O Medina ajudou a pavimentar este caminho do esporte no país e na América Latina, atraindo olhares para o surfe e para ele mesmo. Desde então, o apoio e a presença dos brasileiros que procuram algum contato com o esporte só aumenta”, explica à AFP Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina.
Sua atitude tranquila e relaxada, no entanto, foi ofuscada por comportamentos que alguns consideraram “jogo sujo”, como impedir seus adversários de pegar uma onda potencialmente favorável.
Durante o primeiro semestre de 2022, Medina fez uma pausa na carreira para cuidar de uma depressão depois do fim de seu casamento e da derrota em Tóquio, onde ficou fora do pódio no mesmo ano de seu terceiro título da WSL.
“Ele era uma máquina de vencer, né, ele tinha uma cultura competitiva muito acirrada (…) O que acontece é que ele não está mais tão preocupado com aquela missão de vencer a qualquer custo”, diz Brandão à AFP. “Hoje ele vai para se divertir e para surfar”.