Campeão olímpico volta à Lagoa Santa (MG), onde medalhas da Rio 2016 e Tóquio 2020 foram forjadas, após temporada isolado na Bahia, e está confiante com o bi nas Olimpíadas
Pega a canoa. Coloca no ombro. Atravessa a rua. Tira os chinelos. Entra na água. Rema, rema e rema. Amanhece, sol reflete na água e lá está Isaquias Queiroz novamente, mais um dia, treinando na mineira de Lagoa Santa.
Desde 2013, quando se mudou para a pacata cidade de aproximadamente 60 mil habitantes, o mais ilustre deles iniciou uma coleção de quatro medalhas olímpicas, sendo uma de ouro. Mas as joias olímpicas não eram suficientes. Com 15 anos de seleção brasileira de canoagem velocidade nas costas, o campeão olímpico queria apenas estar com a família e na Bahia.
Isaquias passou a temporada de 2023 morando e treinando, sozinho, em Ilhéus, a cerca de uma hora da Ubaiataba que o transformou em canoísta desde a infância. Curtiu o nascimento do segundo filho, Luigi, fruto do relacionamento com a baiana Laina Guimarães, mãe do primogênito, Sebastian, de 7 anos, mulher de Isaquias e organizadora de parte da vida do baiano.
Ainda em 2023, o atleta ainda conquistou a vaga olímpica para Paris. Mas, antes e depois da façanha –para quem não estava seguindo a planilha de treinamento da seleção–, Isaquias pensou em parar de remar. Depois, no início de 2024 os mesmo pensamentos voltaram. Foi convencido e se convenceu, nas duas vezes, a não parar de remar, como se escutasse os gritos de Jesus Morlan, já falecido, ou de Lauro de Souza, seu treinador desde 2018, gritando diretamente do barco ao lado de sua canoa.
Isaquias Queiroz no barco com os filhos Sebastian e Luigi — Foto: Fábio Canhete/CBCa
– Não foi um ano ruim, não. Foi um ano que eu pude sentir o que é ser o Isaquias Queiroz. Não ser o Isaquias Queiroz da canoagem, o cara que é bom no esporte. Para mim foi especial e aquele ano de 2023 passou. Agora estou focado em Paris e na medalha olímpica. Quero chegar para ganhar a medalha de ouro. Depois vou curtir aquela cidade, tomar um cafezinho –afirma Isaquias Queiroz ao ge.
Aos 30 anos, com dois filhos –curiosamente ambos nascidos em Belo Horizonte– e casado, Isaquias decidiu voltar a Lagoa Santa. Passou um mês morando em um quarto de hotel com toda a família mas agora quer tranquilidade para Laina, Sebastian, Luigi e a mãe Dilma, que ajuda a cuidar dos netos. Vai comprar uma casa para ficar em Minas Gerais até 2028. Isaquias está decidido a competir nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Nada de parar de remar sem ampliar o recorde de pódios olímpicos.
– Sem minha família, hoje, eu não estaria aqui. Talvez só quisesse curtir a vida. Hoje eu remo feliz, não é obrigação. Eu sei que vou chegar em casa, mesmo cansado, após remar uma hora e trinta, com o treinador pedindo para eu correr em volta da lagoa depois, vou chegar feliz por receber o carinho da minha família. Isso é especial para mim – diz Isaquias.
A corrida em volta da lagoa de 6.300 km de extensão –algo que ele não fazia– é também para perder peso. Não que o baiano tenha voltado fora de forma de Ilhéus. Mas é, sim, uma estratégia montada pelo técnico Lauro de Souza, o Pinda, para Isaquias estar mais bem preparado fisicamente para conquistar o bicampeonato olímpico.
– Para Paris, a gente quer um Isaquias mais agressivo. Temos uma estratégia, uma novidade para esses Jogos. Eu acredito que se fizermos o mesmo dos Jogos passado não é o suficiente. Ele vai chegar mais leve e mantendo o nível de força. Com um barco mais leve, em que ele se sente melhor, ele vai ser agressivo nas provas – explica Pinda.
Com 1,75m, espera-se que o campeão olímpico chegue à Paris em julho pensando 82 kg, cerca de cinco a menos do que competiu em Tóquio. A canoa, especialmente desenhada para ele por uma empresa portuguesa, também será mais baixa nas laterais, facilitando a remada do brasileiro. Uma combinação perfeita para um barco mais veloz para as águas francesas, carregando apenas os bons fluídos da Bahia e de Minas Gerais.
– O período que Isaquias ficou em Ilhéus, treinando, eu tinha dúvidas se conseguiríamos reverter a tempo de chegar em Paris competitivo. Mas hoje vejo que foi importante e necessário. Vejo hoje Isaquias com tesão de treinar, com tesão de encarar os treinamentos, e no ano passado eu não tinha esse Isaquias querendo melhorar as marcas, melhoras tecnicamente, querendo bater os seus tempos. Foi um período de aprendizado, necessário. Esse ano ele está com esse tesão e está sendo muito rápida essa evolução – conclui o treinador da seleção brasileira.