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McLaren hoje sobra na F1, mas despreparo para vencer aproxima Verstappen do tetra

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(Foto: Lillian SUWANRUMPHA / AFP)

A realidade da Fórmula 1 2024 desde o recesso de meio de temporada apresentou a explosão da tendência que lentamente se constituiu no começo do ano: a McLaren um passo à frente das rivais. Em boa parte das pistas, tem carro realmente dominante e parte para nadar de braçada no Mundial de Construtores, que já lidera. Mas o Mundial de Pilotos é outra história e está distante, mesmo com toda a força. Culpa do despreparo para organizar a caça a Max Verstappen.

A trajetória do campeonato é incomum dentro da realidade do que vimos na Fórmula 1 nos últimos anos. Uma equipe começa o ano dominando implacavelmente, assim como fizera nos anos anteriores, e dava a sensação de que faria um longo desfile até o troféu. Após a primeira porção de provas, porém, o destino apontou mudança.

A McLaren venceu, com certa sorte, em Miami e começou a apontar que talvez estivesse à frente da Ferrari como segunda força. Mas era somente isso, segunda força. Conforme as provas seguintes apareciam, cada vez mais a diferença da Red Bull para as demais, sobretudo o time inglês, caía. A Ferrari sofria, enquanto a Mercedes aparecia já nos meados da temporada europeia. Quando este momento do campeonato chegou, a McLaren já apontava como um carro do mesmo nível, senão levemente melhor que o da Red Bull.

Foi na retomada pós recesso que as coisas se lançaram como absoluta e drasticamente diferentes. A McLaren disparou enquanto a Red Bull ficou à margem feito pato morto. Abriu 20 segundos de frente em duas das últimas corridas e mostrou que ninguém está sequer próximo. Assumiu a liderança do Mundial de Construtores, graças a ter os dois pilotos pontuando sempre, algo que a Red Bull não pode dizer.

Apesar do domínio ter se consolidado, a diferença no Mundial de Pilotos continua em mais de 50 pontos. É verdade que a tendência de total controle da situação é recente, mas pela maior parte do ano a McLaren tinha carro melhor que o da rival e condições reais de tomar de assalto com mão forte a estrada da temporada.

Para colocar em perspectiva. Verstappen venceu quatro das primeiras cinco corridas do ano, perdendo apenas quando abandonou, na Austrália. A diferença entre Max e Lando Norris após o GP da China, quinto GP do ano e último antes da primeira vitória de Lando, era de 52 pontos. De maneira incrível, a mesma distância que separa os dois agora, 13 provas depois. Os dois marcaram a exata mesma quantidade de pontos nestas 13 provas de ascensão da McLaren.

E, sim, dois pontos estão em destaque para explicar tão impressionante feito. Um deles nem precisa ser subdividido: é a capacidade de Verstappen em ser brilhante recorrentemente. Trata-se de um dos maiores talentos que a F1 já viu estando no auge dos poderes e sendo capaz de salvar pontos de outra maneira inimagináveis. Neste período de 13 corridas, Verstappen ainda venceu três vezes e foi a sete pódios, somando ao todo 221 pontos. Com o mesmo carro, Sergio Pérez não venceu ou foi a pódio algum e somou 59 tentos.

O outro ponto é justamente o desconhecimento de como se vence. Esse pode ser subdividido, porque tem diferentes exemplos e explicações. O mais claro de todos é a perda de chances na largada. Foi somente na corrida passada, em Singapura, que Norris conseguiu largar na pole e completar a primeira volta na mesma posição. Antes disso, perdeu a dianteira nos metros iniciais na Espanha, Hungria, Países Baixos e Itália — destas, apenas em Zandvoort conseguiu recuperar a ponta e vencer.

Recentemente, porém, a equipe saiu em defesa de Lando e disse que é inocente nos problemas de largada e que ela, a equipe, tem culpa no cartório.

— Depois de fazer algumas análises como equipe, incluindo ele, revisamos cada largada e cada primeira volta ao longo da temporada. E, sendo justo, não achamos que, mesmo nos casos em que Lando largou na pole-position e perdeu a primeira posição no fim da primeira volta, ele tenha perdido muito em termos de desempenho — continuou.

— Revisamos Barcelona e achamos que [George] Russell teria sido o primeiro mesmo se Lando tivesse tentado algo diferente. Houve algumas chances em termos de execução de largada, mas reconhecemos que também foram piores por parte da equipe — frisou o chefe da McLaren.

— Acho que foi em Zandvoort, onde os dois carros estavam com pneus frios devido a uma falha de perspectiva da equipe e eles não tiveram uma boa largada, então acredito que embora parecesse que Lando teve ali uma oportunidade importante, os fatos não eram claros. Estamos mais focados até no tempo que dedicamos à preparação de largada durante um fim de semana. Ganha-se confiança e familiaridade saindo da pole-position e entendendo, em termos de defesa do território, o que precisa fazer, até mesmo para dissuadir as pessoas, então acho que isso faz parte da jornada, e é bom que agora estejamos enfrentando esse tipo de oportunidade — finalizou.

Outros lances são os de estratégia, com demora para definir a favorecer Norris no que é uma clara briga pelo Mundial de Pilotos que não envolve Oscar Piastri, outro membro da dupla. Na Itália, por exemplo, poderia facilmente efetuar a troca e dar mais três valiosos pontos a Norris, mas escolheu não fazer. Na Hungria, poderia ter entregue uma vitória a Norris, mas resolveu devolver a Piastri, algo que era digno de merecimento, verdade. Mas até nisso as coisas foram esquisitas, uma vez que a decisão de trocar os dois demorou a vir e deixou a conquista do jovem australiano com um sabor desagradável de fel.

Estes se montam a equívocos menores e que não envolvem Norris diretamente, mas Piastri. No GP dos Países Baixos, por exemplo, a McLaren tinha condições de conquistar uma dobradinha, mas a estratégia para Oscar foi estapafúrdia. Ao demorar muito mais que os oponentes para ir aos boxes, perdeu tempo demais e terminou em quarto. Norris venceu, enquanto Verstappen foi segundo. Tivesse acertado a tática, talvez a equipe pudesse tirar mais alguns valiosos pontos do rival. Provavelmente assim seria. Algo bem parecido já havia acontecido na Inglaterra.

Somente depois do drama na Itália, é bom que se diga, que a McLaren realmente definiu que era hora de trabalhar em prol de Norris. Tarde demais.

A falta de tato com as decisões tomadas no olho do furacão de olho na vitória já havia sido abordada pelo CEO da companhia, Zak Brown, há alguns meses, quando a equipe começou a despontar. E o recado era claro: alma de vencedor é um espírito que se constrói com o tempo.

— Dez pódios consecutivos não é tão ruim, atualmente estamos em segundo no campeonato e ambos os pilotos venceram. Mas não somos perfeitos. Sabemos que cometemos alguns erros ao longo da temporada e vamos aprender com esses erros e aprimorar. Mas acho que tem sido uma temporada incrível até agora e só vai melhorar — finalizou.

E, sim, é verdade que, caso o trabalho seja bem feito, tempo e experiências ensinam como funciona a vivência das vitórias. Mas a F1 é um canhão grande demais, e a chance real de dois títulos põe uma lupa sem igual sobre a equipe. A possibilidade existe e tem existido há alguns meses. Falta tomar controle da situação em vez de apenas navegar com ela. Afinal, ninguém sabe quando será a próxima vez que um cavalo alado vai trotar selado à sua frente.

A Fórmula 1 agora só volta entre os dias 18 e 20 de outubro para o GP dos Estados Unidos, em Austin.

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