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No centro de uma denúncia feita pela Federação Inglesa (FA) por supostas violações às regras de apostas esportivas na Premier League, Lucas Paquetá falou pela primeira vez sobre o caso nesta sexta-feira (31), em Orlando, nos Estados Unidos, onde está concentrado com a seleção brasileira.
“Queria agradecer publicamente o presidente Ednaldo pelo esforço que teve em apurar bem os fatos por tudo o que tem acontecido comigo e pela decisão da permanência na minha convocação”, disse o jogador à imprensa.
“Agradecer o Rodrigo, Dorival e toda comissão pelo apoio e também aos torcedores que me apoiam”.
“Sobre o caso, vai ser a primeira e única vez que vou falar. Fui aconselhado pelos meus advogados a não fazer comentários sobre, mas o que posso falar é que continuo fazendo o possível e cooperando. Vamos fazer o máximo para que tudo seja esclarecido o mais rápido possível. Quero deixar claro que sigo preparado para estar aqui nesse momento. Eu fiz uma temporada muito especial e estou pronto. Queria muito estar aqui e vou fazer o meu melhor para ajudar a seleção brasileira”.
A entrevista do meio-campista acontece um dia após a CBF anunciar a decisão de manter o atleta entre os convocados para os compromissos da seleção brasileira.
Citando uma troca de informações a respeito do caso com a Federação Inglesa, a entidade alegou que “é certo afirmar que o atleta está liberado a exercer o seu ofício profissional até o presente momento, fonte de seu sustento e de sua família, de maneira plena e irrestrita, seja pelo seu clube, seja pela seleção do seu país de origem”.
O que a Federação Inglesa alega na acusação?
Paquetá foi acusado pela Federação Inglesa de violação em duas regras que tratam sobre as apostas esportivas na Premier League.
A investigação apontou que o brasileiro forçou cartões amarelos deliberadamente em quatro partidas distintas para beneficiar apostadores.
“O jogador foi acusado de quatro violações da Regra E5.1 da FA em relação à sua conduta nos jogos do clube na Premier League contra o Leicester City, em 12 de novembro de 2022; Aston Villa em 12 de março de 2023; Leeds United em 21 de maio de 2023; e AFC Bournemouth em 12 de agosto de 2023”, apontou a FA em comunicado.
“Alega-se que ele procurou influenciar diretamente o andamento, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência nessas partidas, buscando intencionalmente receber um cartão do árbitro com o propósito indevido de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrarem”.
“Lucas Paquetá também foi acusado de duas violações da Regra F3 da FA em relação a supostas falhas no cumprimento da Regra F2 da FA. O jogador tem até 3 de junho de 2024 para responder a estas cobranças, sujeito a qualquer pedido de prorrogação deste prazo”.
O que pode acontecer com Paquetá?
Após a formalização da denúncia, Lucas Paquetá terá até 3 de junho para apresentar defesa à Federação Inglesa, mas ainda não há uma data estipulada para a decisão final.
Mesmo que o regulamento da FA não preveja especificamente punição para um caso como o tratado na acusação contra Lucas Paquetá, o histórico de combate à manipulação nas apostas esportivas no futebol inglês sugere que, em caso de condenação, o brasileiro deverá enfrentar uma punição importante.
A entidade suspendeu recentemente dois atletas em casos famosos: Ivan Toney, do Brentford (oito meses), e Sandro Tonali, do Newcastle (dez meses). Ambos ficam impedidos de atuar após investigação que apontou a participação dos jogadores e portais de apostas.
Toney recebeu o gancho após nada menos do que 232 violações das regras de apostas.
Tonali teve a punição por violar o regimento “entre 40 e 50” vezes, sendo que as últimas já como atleta do Newcastle.
O polêmico Joey Barton foi suspenso por 18 meses após uma investigação que apontou 1.260 apostas feitas pelo inglês entre 2006 e 2016.
Mas as denúncias que recaem sobre Paquetá indicam quadro mais alarmante, uma vez que a FA trata o brasileiro como parte ativa da suposta manipulação.
Um caso similar ao do meia aconteceu em 2017, em partidas da Copa da Inglaterra, e acabou gerando uma suspensão de cinco anos pelas advertências. O jogador em questão foi Bradley Wood, lateral-direito hoje com 32 anos. Seu gancho total foi de seis anos, depois de ter sido acusado de infringir, no total, 25 regras disciplinares da FA.
Duas dessas 25 infrações são especificamente cartões amarelos que teriam sido tomados de propósito, assim como Paquetá é acusado – segundo a FA, o meia brasileiro é investigado no momento por até quatro advertências que teriam sido “forçadas” para supostamente beneficiar apostadores.
No caso de Wood, os lances aconteceram em janeiro e fevereiro de 2017, em duelos do Lincoln contra Ipswich Town e Burnley, respectivamente, ambos jogos da Copa da Inglaterra.
Na investigação e decisão pela punição da FA, os contextos dos amarelos foram considerados. Inclusive, “beneficiaram” Wood, já que as jogadas acabaram vistas como “normais”, qualquer outro atleta poderia receber um cartão naquelas mesmas circunstâncias, de propósito ou não.
Assim como Paquetá, que nega ter cometido qualquer infração às regras da FA tomando cartões de propósito, Wood seguiu o mesmo caminho em sua defesa. A investigação, contudo, foi além e obteve fortes indícios de que, sim, o lateral teve envolvimento com apostadores nas duas situações.
O caso mais impactante, contudo, foi o de Kynan Isaac, que recebeu um gancho total de 12 anos em 2022 depois de receber deliberadamente um cartão amarelo em uma partida da Copa da Inglaterra.
Após investigação, o atleta do Stratford Town foi considerado culpado com forte o agravante de não cooperar com as investigações e ainda ter praticado outras 347 apostas entre agosto de 2016 e novembro de 2021.
Além de identificar “hábitos e padrões” com diversas pessoas envolvidas nas apostas em que recebeu cartões amarelos, o processo da FA aponta ainda a ligação de Kynan Isaac às outras partes envolvidas, compondo o que o relatório final tratou como “evidência circunstancial” da ilegalidade para tratar o caso como manipulação de resultado.
Foram usados como agravantes para a punição a intencionalidade do atleta nos jogos, com o mesmo “padrão” de faltas duras (algumas delas, segundo a decisão, passíveis de expulsão), além de falta de cooperação de Isaac durante as investigações da FA.
Programação da seleção brasileira
Convocada pelo técnico Dorival Júnior em meados de maio, a seleção brasileira terá mais dois amistosos antes da disputa da Copa América.
O primeiro compromisso será contra o México, no dia 8, no Kyle Field, em College Station, no Texas. O segundo será contra os Estados Unidos, dia 12, no Camping World Stadium, em Orlando, na Flórida.
A seleção deixará a Flórida para enfrentar os mexicanos no Texas e, em seguida, retornará à base de treinos. As sessões diárias seguirão acontecendo até o dia 20, quando o Brasil ruma a Los Angeles para a estreia da Copa América, que acontece dia 24.
O Brasil está no grupo D da competição. A estreia acontece contra a Costa Rica, dia 24. Em seguida, o adversário será o Paraguai, no dia 28. O último jogo da chave é contra a Colômbia, no dia 2 de julho.
ESPN