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Verstappen à frente, mas contra avalanche laranja: como F1 2024 chega à reta final

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(Foto: Lillian SUWANRUMPHA / AFP)

Não é como se a Fórmula 1 precisasse de uma pausa dramática, mas certamente essas três semanas vão povoar o imaginário de quem acompanha com afinco os episódios deste ano. O caso é que a história desta temporada ganhou reviravoltas das mais interessantes e criou arcos improváveis, mas com uma constante. Max Verstappen, o insolente líder do campeonato, segue firme como favorito ao título — o quarto seguido da carreira — e não parece esmorecer, mesmo diante de uma Red Bull que desmorona aos poucos ao seu redor. É essa força de protagonista que também parece sustentá-lo à frente, enquanto os adversários teimam em erros e vacilos. Ainda assim, vale seguir Lando Norris e sua intrépida e atrapalhada McLaren. Afinal, é muito por causa deles que o Mundial vive o melhor momento desde a introdução do atual regulamento. E se prepara para uma reta final imprevisível.

Quando a F1 voltou das férias do verão europeu, a grande questão girava em torno da assustadora queda de rendimento da Red Bull x o crescimento técnico exponencial da McLaren. A equipe inglesa foi capaz de promover uma sofisticada metamorfose ao longo do ano — mais precisamente desde Miami. A partir dali, o carro laranja ganhou velocidade e versatilidade, sem perder o ponto forte: o equilíbrio, especialmente em pistas seletivas e com trechos de baixa. No entanto, o impecável trabalho na fábrica passou a contrastar com decisões confusas no pit-wall, sem contar a pouca intimidade de seus pilotos, sobretudo Norris, com a vitória. Durante a primeira fase do campeonato, a equipe de Woking colecionou oportunidades perdidas pela simples falta de ousadia e desaforo. Dessa forma, deixou de tirar proveito das falhas dos taurinos e ainda abriu caminho para que Ferrari e Mercedes brilhassem. Esse divertido roteiro permeou as manchetes e escreveu os melhores capítulos até aqui. Mas ainda resta explicar o que acontece com os energéticos — certamente, um episódio à parte. E como será esse desfecho.

Antes dominante, a equipe taurina passou a enfrentar problemas — também fora das pistas, com a saída de nomes importantes, sendo o maior deles, Adrian Newey. Mas o fato é que as atualizações deixaram de funcionar, e isso começou a desgastar Verstappen. Foram etapas complicadas, as de Hungria e Bélgica, por exemplo, porque o time se viu sem um caminho claro a seguir. Em Hungaroring, após uma saliente atualização, o caldo desandou. E bateu o desespero. Os engenheiros tentaram recuar algumas casas ao resgatar soluções usadas ainda na primeira parte do campeonato, quando o time era superior. Nem isso foi capaz de fazer o carro azul marino deslanchar.

Dessa forma, a pausa em agosto foi bem-vinda. A equipe se debruçou sobre os números assim que as fábricas tiveram sinal verde para trabalhar e se criou ali uma expectativa de que seria possível voltar aos trilhos. Mas a chegada em Zandvoort, casa de Verstappen e primeira parada da segunda metade de temporada, não foi das mais aprazíveis, apesar de todas as inovações levadas pela esquadra de Christian Horner. O traçado estreito e traiçoeiro se mostrou um desafio. Ainda assim, Verstappen soube como gerenciar as mazelas e terminou em segundo, mas com uma diferença gritante de mais de 20s para o vencedor Norris. Era o primeiro sinal de que nada havia sido resolvido nas garagens energéticas. E tudo piorou uma semana depois, na Itália.

Em Monza, Max viveu uma montanha-russa de sensações. O RB20 até pareceu recuperar o poder em reta em um primeiro momento, mas a Red Bull decidiu mudar o acerto, apostou em um nível de downforce maior, e isso acabou com qualquer chance de entrar na briga com a McLaren. Além da falta de velocidade, o carro também apresentou uma estranha instabilidade, principalmente na frente. Verstappen terminou a corrida em sexto, refém de um ritmo precário. Após a etapa, o neerlandês se queixou publicamente e disse que, se a equipe não encontrasse uma solução, o Mundial de Pilotos também estaria em risco, mesmo com uma diferença de 62 pontos naquele momento.

Duas semanas depois, a F1 chegou ao Azerbaijão. A Red Bull tentou mudar o carro de novo e trouxe outras atualizações importantes, sobretudo no assoalho. A ideia era melhorar o equilíbrio e proporcionar uma melhor sensação a Verstappen. De novo, não deu nada certo. O piloto #1 sofreu com um RB20 que oscilava e ainda viu Sergio Pérez se dar melhor no circuito urbano. Max fechou a prova em quinto, ajudado por um acidente entre Pérez e Carlos Sainz na penúltima volta. O problema foi que, em nenhum momento em Baku, o tricampeão pareceu de fato competitivo. Então, a luz amarela iluminou a fábrica taurina. Era preciso uma ação de emergência.

Sete dias mais tarde, Singapura recebeu o Mundial, e as preces dos energéticos foram atendidas, porque algo aconteceu na cidade-estado asiática. Depois de um início claudicante na sexta-feira, a esquadra austríaca encontrou uma solução para as ruas de Marina Bay — muito em função do trabalho do eterno reserva Sébastien Buemi, que virou a noite no simulador em Milton Keynes, tentando achar um caminho. Deu certo. E Verstappen conseguiu, como em Zandvoort, se aproximar de Norris e da McLaren. Minimizou os prejuízos com um segundo lugar, em uma vitória maiúscula do inglês da McLaren — que parece ter entendido o quão difícil é ter o melhor carro e ainda entregar resultados completos a cada fim de semana.

Diante dos resultados, o recorte de momento é o seguinte: Max ainda possui uma vantagem considerável para Lando, piloto que mais perto está do líder. São 52 pontos, restando seis etapas e três sprints. Ou seja, 180 pontos ainda estão em jogo, levando em consideração o tento pela volta mais rápida. Há uma disputa, pois. E só por isso já vale acompanhar as etapas finais. Mas o que torna tudo mais divertido é a imprevisibilidade que tomou de assalto o Mundial deste ano.

É bem verdade que Verstappen parece quase inabalável, mesmo diante de todos os perrengues. Não é preciso elaborar tanto, mas parece óbvio que o neerlandês e a Red Bull sabem como vencer um campeonato. A questão é que eles não são capazes de confiar plenamente no equipamento, e isso é espantosamente interessante. O histórico em 2024 mostra um retrato bem diferente daquele de um ano antes. O tricampeão não vence desde junho, quando levou a melhor na Espanha. De lá para cá, tem feito a diferença ao tirar proveito dos erros dos rivais. Mas nunca se sabe quando a ficha vai cair do outro lado dos boxes.

Enquanto isso, há essa McLaren, que teima em se ver na condição de postulante ao título. Mas gosta dos holofotes. Embora desfrutem uma superioridade técnica — em algumas pistas isso se torna ainda mais evidente —, os papaias não dominam. A equipe que tem Andrea Stella como líder ainda peca em situações chave. Por exemplo, na Itália, enquanto Max se viu em apuros com um carro pouco competitivo, a chefia da McLaren se recusou a lançar mão de ordens e ampliar o cenário de uma luta de título. Preferiu deixar seus dois pilotos duelarem. A Ferrari acabou ganhando a corrida em um golpe que os laranjas não foram capazes de antecipar. Foi uma derrota dolorosa, porque o taurino do carro #1 estava fora de combate.

Em Baku, Lando colocou tudo a perder com uma classificação pífia e ainda teve de celebrar a vitória do colega de garagem, Oscar Piastri. O triunfo salvou os ingleses de um novo vexame e ainda proporcionou a virada entre os construtores. Agora, a McLaren comanda a tabela. E tem no jovem australiano uma arma para atacar os energéticos. Mas até isso é confuso pelos lados de Woking.

Também é importante considerar as duas coadjuvantes. Ferrari e Mercedes ainda orbitam neste cenário e não parecem dispostas a pender para um dos lados, apenas o seu próprio. Os italianos estão em melhor momento, depois da vitória em Monza e da batalha em Baku. Sem dúvida, Frédéric Vasseur tem planos maiores, inclusive no que diz respeito à briga entre as equipes. A escuderia aparece apenas 34 tentos atrás dos taurinos, em terceiro. Então, além dos ingleses, a marca dos energéticos também não pode se descuidar da dupla vermelha.

Já a equipe alemã não vive boa fase e parece cada vez mais perdida, com erros recorrentes de estratégia, equívocos dos pilotos e uma gerência esquisita da parte técnica. Contudo, não dá para descartar um lampejo de brilho, especialmente em pistas que as Flechas de Prata costumam surpreender, como Austin, Interlagos e Catar.

Então, é diante desse cenário incerto que F1 vai retomar as atividades daqui a três semanas, nos Estados Unidos. Impossível cravar alguma coisa agora. É certo que a McLaren tem potencial para vencer tudo daqui até Abu Dhabi e, quem sabe, bater esse até agora implacável Verstappen. Só tem um problema: a história da temporada 2024 está longe de obedecer qualquer lógica. Portanto, os próximos capítulos prometem.

A Fórmula 1 vive longa pausa e retorna de 18 a 20 de outubro em Austin, Estados Unidos, início da perna americana da temporada 2024.

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