ge foi até Conceição do Jacuípe conhecer os campos em que o artilheiro começou
Quem vê Júnior Santos desfilando talento no tapetinho do Estádio Nilton Santos pelo Botafogo não imagina que tudo começou para o jogador em um campinho de terra no interior da Bahia. Foi em Conceição do Jacuípe que o jogador nasceu e começou a jogar futebol.
Voz do Setorista: conheça as origens de Júnior Santos, artilheiro do Botafogo
O ge foi até o Recôncavo Baiano, 98km distante da capital Salvador, para conhecer as origens do artilheiro da Conmebol Libertadores, com nove gols. A cidade de 33 mil habitantes é agitada no centro, com caixas de som e muitas pessoas circulando.
Porém, conforme o visitante se afasta do centro, é possível ver uma vida simples e muitas vezes silenciosa, diferente do ritmo das grandes cidades. Foi nesse ambiente que cresceu José Antônio dos Santos Júnior.
A casa em que morou Júnior Santos em Conceição do Jacuípe — Foto: Giba Perez
O camisa 11 do Botafogo morou em uma pequena casa na cidade até os 20 anos. Começou na infância disputando os “babas” (apelido para jogo de futebol) com os amigos em um campo de terra no bairro.
– [A gente] jogava muito. Praticamente de manhã e de tarde. Só não jogava à noite porque não tinha refletor (risos). O Júnior era o que todo mundo queria jogar do lado. Era o cara que quem jogava contra tinha o receio de que as coisas poderiam acontecer – revelou o amigo de infância Wilson Almeida, conhecido como Inho Rapper.
Veja o campinho de terra onde começou Júnior Santos, do Botafogo
Segundo o amigo, Júnior Santos era o destaque da cidade. Não importa em qual posição jogasse, “inclusive de goleiro”. O filho de Conceição do Jacuipe virou motivo de orgulho para os conterrâneos, que mesmo sem torcer para o Botafogo muitas vezes param para ver os jogos.
O bom desempenho de Júnior Santos chamou atenção dos times que disputavam campeonatos amadores na região. Todos brigavam para ter o atacante e pagavam cerca de R$ 300 por jogo para ele.
Foi no Estádio Municipal que o atacante conquistou os primeiros títulos e juntou dinheiro para se sustentar junto aos outros empregos que tinha. A conciliação do trabalho como mecânico ao lado do irmão Carlos Antônio, o “Carlinhos”, e de pedreiro com as peladas eram sempre difíceis para o jogador.
– Ele gostava muito de futebol, de jogar bola. Às vezes dava o horário de ele jogar e ele tinha que trabalhar comigo. Aí ele ficava “mano tenho que ir jogar”, eu dizia “vai lá” – lembrou o irmão.
Foi justamente a dedicação aos babas e aos campeonatos amadores que renderam a Júnior as oportunidades que hoje fazem dele o artilheiro do Botafogo na temporada, com 15 gols marcados.
Amigo compõe rap em homenagem a Júnior Santos
Agregador fora de campo
Se tem um lugar que Júnior Santos é uma unanimidade, é fora do campo. Todos descrevem o jogador como um cara humilde, que trata todos com quem tem contato bem, independente de ser próximo ou não.
Quando mais jovem, gostava de aprontar no bairro. O amigo Inho conta que certa vez o jovem Júnior vestiu uma máscara e ficava assustando os moradores do bairro à noite.
Mesmo com a fama adquirida desde que virou destaque no Botafogo, nunca abandonou as raízes. Sempre volta ao interior para visitar os amigos quando tem férias. Inclusive ajuda um projeto social para crianças jogarem futebol em Conceição do Jacuípe.
Amiga de Júnior Santos lembra história emocionante do atacante
Em uma dessas visitas, proporcionou um momento especial para Rosana Mendes, amiga de longa data. O jogador ajudou a construir a casa dela quando trabalhava como pedreiro.
– Júnior é um cara super humilde, simples e tem um coração de ouro. Para vocês terem noção, depois de tudo que aconteceu na vida dele, eu estava aqui certo dia e ele veio na simplicidade comer meu pastel. Ele veio e me convidou para o casamento dele. Eu falei: “Júnior, como que eu vou? Não tenho condições”. Ele disse: “Tem sim, porque Deus em exaltou e eu vou te levar comigo” – contou Rosana.
Todo mundo gosta dele. Eu nunca vi ninguém falar que não gosta. É um cara… Faltam até palavras para dizer. É especial. Não só para mim, mas para toda a galera.
— Wilson Almeida
A família é também peça central do que é Júnior Santos fora dos gramados, especialmente a relação com o pai, quem ele já citou mais de uma vez em entrevistas. Foi José Antonio quem motivou a continuar lutando pelo sonho de ser jogador.
E o atacante soube retribuir a fé que recebeu. Depois que conseguiu se estabelecer como profissional, passou a cuidar do pai da melhor forma que pode.
– Quando ele começou a se destacar, com um dos primeiros salários dele, a primeira coisa que ele foi reformar a casa do pai. Conseguiu mudar de clube, estava ganhando um valor a mais e deu uma casa nova. Quando o pai adoeceu, ele deu todo o suporte necessário – afirmou o irmão Carlinhos.
Irmão de Júnior Santos revela o que o atacante fez com o primeiro salário
Foi justamente o período em que foi para São Paulo que foi o mais difícil para Júnior Santos. Longe da família e com dificuldades para se encaixar, passou a lidar com dificuldades proporcionadas pela distância.
Chegou a pensar em largar tudo e voltar para a Bahia, mas a ajuda do empresário Edivaldo Ferraz e uma conversa com o pai ajudaram a fazer o camisa 11 do Botafogo seguir perseverando.
– Teve um momento que eu senti que ele estava muito triste por causa do pai. Eu acabei enviando um aporte financeiro para ele manter lá a família. Teve também uma chuva na casa dele e entrou muita água também. Eu mandei também uma ajuda para atender as primeiras necessidades e o pai falou para ele continuar – revelou Ferraz.
Junior Santos posa ao lado seu empresário Edivaldo Ferraz — Foto: Arquivo pessoal
Foi no Ituano que Júnior Santos deu o primeiro grande salto para o profissionalismo. De lá, passagens por Ponte Preta, Fortaleza, Kashiwa Reysol, Yokohama Marinos e agora a consolidação como protagonista no Botafogo.
Mais uma vez como referência no ataque e esperança de gols, Júnior tem a missão de tentar classificar o Glorioso na Copa do Brasil nesta quarta-feira, às 19h, contra o Vitória na Copa do Brasil. Um empate basta para os cariocas avançarem às oitavas de final.