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Por que Di María, mesmo campeão do mundo com a seleção, é ameaçado na Argentina?

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Getty Images

Di María é campeão mundial sub-20, campeão olímpico, venceu Finalíssima, Copa América e Copa do Mundo — tudo pela seleção argentina. Só não fez gol na primeira dessas cinco decisões. Aos 36 anos e com bons números na última temporada pelo Benfica, decidiu voltar ao clube em que foi revelado, o Rosario Central, da cidade onde nasceu, para atuar por pelo menos seis meses. Mas ameaças podem impedir o jogador de realizar o desejo.

Na última quarta-feira (29), um mural com o rosto dele, em Rosário, foi pichado: “Ainda vai voltar?”. No local, também foram vistos cartazes com referências aos quatro rebaixamentos do Rosario Central no Campeonato Argentino. Em março, o tom foi ainda pior. Um cartaz foi deixado por um carro em frente à casa onde Di María e os familiares ficam quando estão na cidade.

“Diga a seu filho Ángel [Di María] que não volte a Rosário, porque, senão, estragaremos tudo matando um familiar. Nem Pullaro (governador provincial) vai te salvar. Não jogamos fora pedaços de papel. Jogamos chumbo (bala) e gente morta”, dizia o ‘recado’.

Mas por que um ídolo local e nacional recebe tantas ameaças para não voltar? Não há um motivo claro, mas o contexto da cidade dá uma dimensão.

Rosário tem onda de violência

A cidade de Rosário fica na província de Santa Fé. É a terceira mais populosa do país e está no meio de uma crise de violência. Em março, foi registrada uma onda de assassinatos, com a morte de dois taxistas, um motorista de ônibus e um frentista. Os atentados fizeram com que transportes, aulas e postos de gasolinas fossem fechados de um dia para outro.

Patricia Bullrich, ministra da Segurança, falou em “ações narcoterroristas”. O presidente do país, Javier Milei, também falou em lei antiterrorismo. A cidade chegou a marcar 22,31 homicídios a cada 100 mil habitantes.

Dias após a ameaça de março contra Di María, a polícia prendeu o principal suspeito. Ele já era investigado por narcotráfico. Quando foi preso, foram encontradas 135 gramas de cocaína, além de uma pistola calibre 22 e munições.

Rivalidade pode estar envolvida?

À época da prisão do suspeito, o promotor responsável pelo caso descartou que as ameaças estivessem envolvidas em um contexto de rivalidade de futebol.

“Não vejo que isso tenha sido feito por um torcedor do Newell’s Old Boys que esteja bravo com a possibilidade de Di María atuar no Rosario Central. Por conta dos meios escolhidos e da repercussão que sabiam que teria, tem de ir por outro caminho”, afirmou.

Messi foi criado em rival e também foi ameaçado

Lionel Messi, companheiro de títulos de Di María na seleção argentina, também é da cidade de Rosário, mas cresceu no rival Newell’s Old Boys. Isso não o impediu de também ser ameaçado.

Uma das franquias de supermercados pertencentes à família de Antonela Roccuzzo, esposa de Messi, foi atacada por tiros em março do ano passado. Um recado em um cartaz foi deixado no local: “Messi, estamos te esperando. Javkin (então prefeito) também é narcotraficante, ele não vai cuidar de você”.

Ameaças já fizeram Di María recuar

Em 20 de março deste ano, Di María conversou com a ESPN Argentina e falou abertamente sobre o desejo de voltar a jogar no Rosario Central, de onde saiu em 2007 para brilhar no futebol europeu.

“Estou tranquilo [quanto ao futuro], mas digo que é um sonho poder voltar [ao Rosario Central]. Ultimamente tenho visto as coisas que estão acontecendo em Rosário, e isso influencia muito. Tenho minha família e as coisas que estão acontecendo afetam a todos. Mas a ilusão de voltar sempre existe”, disse.

“[Voltar à Argentina] É um sonho que pode se tornar realidade. Sempre disse que seria uma felicidade encerrar minha carreira no Central”, completou.

A primeira ameaça, com o recado para a família, aconteceu cinco dias depois. O jornal A Bola, de Portugal, onde o argentino defende o Benfica, publicou à ocasião que o atleta, por conta do fato, havia desistido de voltar ao país natal.

Dois meses depois, no início desta semana, o mesmo A Bola revelou um novo plano de Di María: ele jogaria por seis meses no Rosario Central antes de, no início de 2025, rumar ao Inter Miami para ser companheiro de time de Lionel Messi. O time da MLS bateu o teto salarial e não poderia contratá-lo por enquanto. O tempo na Argentina, portanto, seria bom para todos.

A ideia de Di María era morar sozinho em Buenos Aires, a cerca de 300 quilômetros de Rosario — para onde viajaria todos os dias –, com várias exigências de segurança com a polícia local. A família do craque passaria esse período já em Miami, nos Estados Unidos.

Ainda não se sabe o que acontecerá após a ameaça desta semana.

Rosario Central tem apoiado o jogador

O Rosario Central, desde a primeira ameaça, se colocou ao lado do jogador e deixou a decisão sobre voltar ou não à Argentina exclusivamente com ele. O contrato com o Benfica se encerra em junho.

“O clube repudia os fatos de conhecimento público, em que se registraram ameaças contra um reconhecido jogador surgido de nossa base. Não se pode permitir que queiram amedrontar os jogadores ou atentar contra eles e seus familiares, que são os protagonistas principal dos espetáculos esportivos, assim como tampouco se pode permitir violência contra nenhum integrante da família do futebol. Isso tem de terminar de forma definitiva na cidade. Estamos firmes em avançar como clube que se sente diretamente danificado por esses fatos. Solicitaremos sanções até as últimas consequências a quem estiver envolvido”, afirmou o time argentino, em nota.

Kily González, ídolo do Rosario Central, também havia falado com a ESPN Argentina sobre um possível retorno de Di María.

“Tenho uma relação especial com Ángel [Di María]. É real [a possibilidade de jogar no Rosario Central], mas há uma coisa para se entender primeiro. São decisões pessoais. Claro que meu desejo como torcedor é que ele venha. Ele também quer isso”, disse.

“Por conta da loucura que vivemos no nosso país, lamentavelmente, é necessário repensar a decisão. Como sempre digo a ele: vou apoiar a decisão que tomar. Antes de tudo, tem a família. Enquanto ele estiver feliz com a família, eu também estarei. Mas ninguém duvide de que ele está morrendo de vontade de vestir a camisa do Central. É o sonho que tem desde que saiu do clube. Espero que nosso clube consiga cumprir. Mas não posso ser egoísta e pensar no que quero, mas, sim, respeitar o que ele decidir”, completou.

Trajetória de Di María

Di María surgiu no Rosario Central no fim de 2005. Como meio-campista e ponta, chamou atenção do Benfica e, ainda aos 19 anos, chegou ao futebol europeu. Passou por Real Madrid, Manchester United, PSG e Juventus.

O argentino retornou ao Benfica em julho de 2023. Nesta temporada, atuou em 48 partidas, com 17 gols e 13 assistências.

A trajetória na seleção argentina é recheada de glórias. No time principal, o auge veio recentemente. Em 2021, ao lado de Messi, encerrou um jejum de 28 anos sem títulos e conquistou a Copa América, contra o Brasil, em pleno Maracanã. Ele foi o autor do gol da vitória por 1 a 0.

No mesmo ano, na Finalíssima, em duelo contra a Itália, então campeã europeia, trouxe outra alegria. Vitória por 3 a 0, em Wembley, também com gol.

O ponto alto foi o título da Copa do Mundo de 2022. Di María abriu o placar no empate por 3 a 3 na decisão contra a França, que terminou com a conquista argentina nos pênaltis.

O jogador está no elenco convocado por Lionel Scaloni para a Copa América de 2024, que será disputada nos Estados Unidos. A Argentina está no grupo A, ao lado de Canadá, Chile e Peru. A estreia será contra os canadeneses, em 20 de junho.

ESPN

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