Foto: Acervo pessoal / Petrúcio Ferreira
Nem sempre os atletas de alto rendimento buscam eliminar as “gordurinhas” antes de grandes competições. O brasileiro Petrúcio Ferreira, por exemplo, fez o contrário. Na reta final da preparação para as Paralimpíadas de Paris 2024, o atleta paralímpico mais rápido do mundo iniciou uma dieta focada em aumentar o percentual de gordura, com o famoso “dia do lixo” liberado duas vezes por semana. Segundo ele, a mudança foi para prevenir lesões, já que seu metabolismo é muito acelerado. Como o corpo usa principalmente a gordura como combustível, quando o percentual de gordura está muito baixo, o organismo precisa recorrer ao glicogênio muscular, e ainda pode haver perda óssea. Dois fatores de risco para lesões.
— Aumentamos carboidratos. Comer pizza, pastel e caldo de cana na feira, por exemplo, o famoso “dia do lixo”, passou para dois dias na semana. A quantidade em gramas ficou menos regrada também. O meu percentual de gordura estava muito baixo e isso poderia levar ao risco de mais lesões. Quando o organismo procurava puxar algum tipo de energia, puxava da minha musculatura — explicou o atleta.
Em maio, Petrúcio participou do Mundial de Atletismo em Kobe, no Japão, logo após ter se recuperado de uma lesão. A dieta surgiu justamente para prevenir novas contusões e garantir que ele chegasse aos Jogos Paralímpicos na melhor forma física. O objetivo era aumentar em 4% o percentual de gordura, porém, devido ao metabolismo acelerado, ele conseguiu apenas 1%.
— Por incrível que pareça, me senti como mais energia, rendendo mais nos treinos, mas quando fizemos o teste eu só tinha aumentado 1% de gordura (risos). A meta era aumentar 4%. Depois que melhoramos isso, meus riscos de lesões e contraturas diminuíram.
A nutricionista esportiva Letícia Lenzi, da Universidade do Vale do Itajaí, explica que essa necessidade de ganho de gordura corporal se refere a casos isolados, principalmente no universo do esporte de alto rendimento, com atletas de alta performance.
– Essa galera que realmente tem um gasto calórico absurdo pode encaixar chocolate, pizza e qualquer coisa que eles queiram sem afetar o desempenho deles. Funciona como substrato energético.
História e conquistas
Petrúcio sofreu um acidente com uma máquina de moer capim quando tinha dois anos de idade e perdeu parte do braço esquerdo, abaixo do cotovelo. O paraibano de São José do Brejo do Cruz gostava de jogar futsal e sempre foi muito rápido. A velocidade chamou a atenção de um treinador de atletismo. Ele passou a competir na categoria T47, para atletas com transtorno do movimento de baixo grau a grau moderado em um dos braços ou com ausência de membros.
Atualmente, aos 28 anos, Petrúcio é bicampeão olímpico, tetracampeão mundial e recordista nos 100m. Em 2019, tornou-se o atleta paralímpico mais rápido do mundo com 10s42. Além de ser tricampeão em Jogos ParaPanamericanos.
— O Mundial em Kobe foi um teste antes de Paris, porque eu não estava 100%, até mesmo por estar voltando de uma lesão. Mesmo assim, dei meu melhor dentro da pista e consegui trazer mais uma medalha (de ouro) em campeonato mundial. Lá eu tive a oportunidade de estar ao lado dos meus principais adversários que vão também estar em Paris.
Petrúcio Ferreira estreia em Paris no dia 30 de agosto. As Paralimpíadas terão transmissão do sportv2 e acompanhamento do ge.
GE