Mais de cinco anos após a tragédia, o documentário “O Ninho” foi lançado na plataforma Netflix nesta quinta-feira (14). O longa conta a história de tudo que foi apurado até aqui sobre o acontecimento e conta com alguns depoimentos, embora nenhum de pessoas ligadas à diretoria do Flamengo, seja a situação ou a antecessora. Sem dúvida, essa peça vai dar o que falar em ano eleitoral.
A Trivela teve a oportunidade de assistir o documentário e, ainda, apurar um pouco mais sobre como ele reverberou nos bastidores do Flamengo.
Ficou feio para a chapa de Landim
O documentário expõe aquilo que boa parte de torcida e envolvidos com o futebol já sabiam: a frieza do Flamengo ao tratar sobre o assunto. Seja na figura de Landim, ou de outros da alta cúpula, como Rodrigo Dunshee de Abranches, vice-presidente geral e jurídico, o clube aparece como um grande vilão. E não é de graça.
A maneira com que o Flamengo tenta esquecer esse episódio triste é justamente o objetivo do longa. No fim das contas, o sentimento de revolta ganhou os bastidores do clube, principalmente na oposição. A Trivela também conversou com membros da situação, que revelaram profunda tristeza pelo ocorrido.
Pior ainda para Dunshee, que deve ser o candidato indicado por Landim para manter a chapa por mais três anos. A condução do departamento jurídico do Flamengo está entre os temas centrais, seja ao recorrer de indenização de R$ 10 mil às famílias das vítimas, seja pelo desdém quanto ao ocorrido.
Bandeira de Mello também é atingido
A situação também pesou para Eduardo Bandeira de Mello, atualmente deputado federal pelo Rio de Janeiro, que era o presidente na época da instalação dos contêineres. Durante o documentário, inclusive, um promotor do caso afirma que o mandatário sabia das condições precárias dos alojamentos. Sem apontar dedos, mas com dificuldades de entender uma possível volta para tentar a presidência.
Assim como Landim e Dunshee, Bandeira de Mello não atendeu as ligações da reportagem da Trivela até o momento da publicação desta reportagem.
O que dizem os donos do material?
Com a palavra, o diretor Pedro Asberg. Segundo ele, muitas pessoas recusaram o pedido de participarem do documentário, não apenas envolvidos diretamente com o Flamengo. As empresas, tanto de ar-condicionado quanto dos contêineres, também não quiseram falar. Segundo ele, a ausência do clube não anula o longa, mas as entrevistas enriqueceriam ainda mais o material.
“Presidentes, vice-presidentes, diretores do clube, representantes de empresas… a lista de pessoas que se recusou a participar é grande; empresa fabricante de contêiner, empresa de manutenção de ar-condicionado… mas quero acreditar que isso não diminui o peso do trabalho. Talvez, ao verem o trabalho, alguns se arrependam e vejam que poderiam ter dado suas visões da história. Quando você abre mão de opinar e participar, deixa que os outros tirem suas próprias conclusões da sua ausência (…)
O Flamengo nunca entrou em contato ou participou do trabalho. A gente entendia que essa série poderia existir sem a concordância do clube, apesar de a gente querer a voz de representantes do Flamengo na série. Em nenhum momento o Flamengo tomou a iniciativa de nos procurar, assim como nós, durante o processo, não o procuramos institucionalmente; depois, claro, fizemos pedidos formais por entrevistas e isso acabou não acontecendo”
Impunidade prevalece
Ainda que o documentário tenha cumprido bem o seu papel de documentar a história, diante das circunstâncias de maiores recusas do que aceites nas entrevistas, além de constranger os envolvidos com maestria durante os depoimentos das famílias atingidas, ele não é suficiente. A memória segue viva, mas a impunidade também acompanha o caso. Até o momento, ninguém foi preso, muito menos responsabilizados pelos crimes.
A tragédia do Ninho do Urubu é o episódio mais triste da história do Flamengo e, justamente por isso, não deve ser esquecido. São mais de cinco anos de revolta, um afronte a Justiça brasileira jamais ter proferido ao menos uma decisão diante de uma tragédia tão repercutida.